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quarta-feira, 29 de junho de 2011

O RIO QUE INSPIRA CULTURA

Existe um Rio de muitos outros rios que a cada vibrar do violão, a cada estrofe desenhada, a cada rugido de gaita é lembrado.

São 2.200 km de águas turvas e, em muitos pontos, cristalinas e de belas paisagens. Um rio de intensas transformações ao longo da história, e uma fonte de encontros e inspiração para a cultura. O majestoso Rio Uruguai no seu percurso desenha diferentes regiões e culturas, margeando os estados sulistas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e, a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai. Revela moradores e frequentadores de sua barranca, admirados com suas águas, mas também preocupados com a preservação deste manancial.


Belezas, preocupações, histórias, cotidiano e amizades. Tudo se torna poesia, música, poema, conto reunindo amigos à beira do Rio para compartilhar a vida e a emoção que dele emana. No Rio Grande do Sul, já foi cenário de séries como “Na Trilha dos Rios” da RBSTV e minissérie “A Casa das Sete Mulheres” da Rede Globo e continua sendo motivo de muitos projetos em favor de sua preservação. Civilizações diferenciadas o margeiam em busca de união, compartilhamento e produção de cultura, a fim de cultivar costumes que não querem ser deixados para trás, por nós e pelo Rio.








Fonte de notas musicais


O Festival da Barranca que acontece anualmente durante a Semana Santa, a uns 13 km da cidade de São Borja no oeste do Rio Grande do Sul, é um exemplo de encontro musical que literalmente é movido pelo Rio. O evento já ocorre há 40 anos, reunindo amigos e convidados num acampamento à beira do Rio Uruguai. Em cada edição do festival há um tema sobre o qual os participantes compõem as músicas durante o encontro, para no último dia compartilhar entre todos. Disputam também o troféu Apparício Silva Rillo, homenagem a um dos componentes do Grupo Amador de Arte Os Angüeras, fundadores do Festival da Barranca.


O compositor Odemar Gerhardt, participante do evento teve muitas composições vencedoras do Festival. Ele afirma que este é o “maior de todos e incentivador dos outros”. A inspiração vinda do Rio é por toda a História e belezas do Uruguai e mais “por contemplar as suas águas de cima de um caíque ou das suas barrancas, as melodias e poesias afloram ao natural nos compositores”. Odemar declara que participar do Festival da Barranca “não tem igual. E olha que já participei quase todos os festivais do Estado. A fonte de subsídios para escrever, compor e musicar é inesgotável. Você pode cantar este rio com quase todos os ritmos da nossa cultura e dos outros países que também são banhados por suas águas”.



Outro festival que enaltece o cenário e alma do Rio Uruguai através da cultura musical e poética é o Encontro Costeiro, promovido pelo Grupo de Arte e Cultura Costeiros do Yucumã, integrado por moradores de Esperança do Sul e Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul. O grupo se reúne à beira da fonte de inspiração para compor e interpretar músicas, poemas e contos. O advogado Valmor Luiz Abegg de Três Passos, presidente do Grupo conta que este “surgiu a partir da união de amigos que comungam um mesmo objetivo. A essência é a valorização da cultura e tradição da música e poesia gaúcha e a preocupação com a preservação do meio ambiente”. Ele explica que há outros grupos denominados “costeiros” pelo Estado com o mesmo objetivo deste.
Valmor comenta que a razão da escolha pelo Rio Uruguai é “natural, porque é aquele que nos é mais marcante, pela convivência de longos anos, uma vez que a maioria dos integrantes do grupo é nascida e criada” em cidades à beira do rio, como Esperança do Sul onde se realizam os encontros. Sobre a importância de festivais como este, afirma que eles “são pilares de preservação da arte, da tradição e, acima de tudo, da amizade entre homens que compartilham os mesmos ideais: cultuar a natureza e traduzir seus encantos em música e poesia”.






Amigos do Rio Uruguai


Muitas composições musicais nasceram da barranca do Rio Uruguai para os festivais e dali para o convívio de adoradores da arte musical. Você já ouviu, por exemplo, estas frases?

“Se lá no povo entre os blocos de cimento
Sentir no peito uma espécie de vazio
Junte a piazada tranque seu apartamento
Venha pra costa ouvir o canto do rio
Depois de noite quando a lua vem saindo
E a prosa mansa na varanda tem início
Entre os amigos do Uruguai por parceria
A correnteza chora e canta por capricho...”


Estes versos fazem parte da música “Amigos do Rio Uruguai” composta por Odemar Gerhardt, João Carlos Loureiro, com arranjo musical de Carlos Augusto Losekam. Sobre o surgimento da letra, Odemar que é natural de São Borja, conta que tudo começou com a fundação de um grupo denominado “Os Costeiros” , quando ele veio residir em Santa Rosa, em 1986. Organizado por ele com o intuito de realizar um festival semelhante ao já efetivado na sua cidade natal, o Festival da Barranca. Para isso era necessário um lugar às margens de um rio, assim o primeiro encontro foi no Rio Santa Rosa por causa da proximidade com o município. No entanto, o pensamento sempre foi realizar no rio maior, o Uruguai.


- Depois de várias tentativas em outros lugares, eis que fizemos então no lendário Rio. Nessa oportunidade ele foi realizado no município de Novo Machado, no Lajeado Corredeiras onde tem uma comunidade de moradores com casas à beira rio. Quando terminou o evento, numa noite de sábado, surgiu um desafio para que os compositores presentes fizessem uma homenagem a essa comunidade chamada ‘amigos do Rio Uruguai’, pela importância das suas atividades ecológicas (limpeza do rio) e pela fiscalização da pesca predatória.

-Este chamamento tocou os brios de mim e do João Carlos Loureiro. Embrenhamos-nos no mato de madrugada bem à beira da água e quando o sol nasceu a composição estava pronta para ser apresentada durante o almoço de domingo, onde aconteceria a entrega dos prêmios. Eis que a melodia e a letra tocaram fundo naquela gente e vários cantores queriam gravá-la.

- O primeiro cantor e amigo que nós autorizamos a gravar, foi o Valdomiro Maicá, quando realmente a música estourou. Seguiu-se depois, João Chagas Leite, Júlio Saldanha, Oswaldir e Carlos Magrão e muitos outros. Ainda estão nos pedindo para gravar esta composição apesar de tanto tempo. Nós definimos como nossa melhor obra sobre o rio Uruguai.

Declamando paixão ao Rio Uruguai

“Vivo meu tempo costeando as barrancas do Uruguai, fui filho e hoje sou pai, pescador de profissão, nunca usei minhas mãos pra exercer outro ofício, chalaneio, quase por vício e pesco por opção”. Estes são versos da poesia “Herança Pesqueira” do poeta Jorge Claudemir Soares, morador de Uruguaiana, município banhado pelo Rio que lhe inspira. Jorge escreveu a poesia para participar do 3º Festival Temático do Rio Uruguai, no ano 2007, ficando em segundo lugar na categoria.


Mas o que será que o Rio Uruguai tem que faz diversas pessoas a deleitar sobre a literatura e a música ao seu respeito? Jorge comenta que: “É muito difícil definir exatamente essa magia que une o homem fronteiriço a um rio que deu origem a cidade”. Mas é por toda a história que o Rio tem ao formar Uruguaiana “e mais a beleza natural e o fascínio que o Rio Uruguai exerce sobre todos nós, é que somos eternos apaixonados pelo velho Uruguai dos chibeiros e dos montarazes, e quero crer que, assim permaneceremos por muitos séculos ainda”, ressalta Jorge. O poeta finaliza dizendo que “o Uruguai é uma paixão para quem nasceu nesta terra e permanece aqui bebendo sua água, sobrevivendo do trabalho que ele oferece, e usufruindo de suas generosas dádivas”.




Inspiração para a cultura




Para Valmor Abegg o Rio Uruguai inspira tantas composições “porque há uma história de trabalho, sofrimento e alegrias sobre as águas do Rio Uruguai. Esses momentos inspiram e encantam. E, o resultado disso é traduzido em música e poesia pelos amantes da arte”.

Odemar afirma que a história que o Rio carrega é fonte de inspiração. “Este rio é lendário, pois foi palco de inúmeros episódios marcantes na história, na vida e na formação do Rio Grande do Sul”. Além disso, “sua fauna e flora, belíssima que outrora deleitava os nossos olhos. Os peixes Dourado, Piava e o Surubi para não citar tantos, estes os maiores predadores deste rio. Peixes rápidos, ligeiros que só caçam na correnteza que só este Rio possui. As garças, os Biguás que vem e vão. A onça que ainda em alguns lugares existe. A capivara que se banha em suas águas. Os bugios que estão sumindo e ameaçados de extinção que vinham aos bandos por cima de nossos acampamentos fazendo um alarido que parecia uma verdadeira guerra. Olha só a fartura de material para pesquisa poética-musical que nós temos! Por isso que nós amamos este rio e procuramos defendê-lo com a nossa arte, para que ele não sucumba”.



Mensagem de Odemar a todos nós: “Não deixem esse rio parar de correr. Que esse rio continue atirando os seus caracóis para as margens provando para todos nós que ele está vivo e pulsante. Que possamos ver a maravilha de um Dourado pulando pra fora d'água refletindo suas escamas pelo sol. Esse rio não pode morrer, pois se isso acontecer, nossa geração e as vindouras morrerão um pouco também”.
























Deisi Fabrim

terça-feira, 28 de junho de 2011

Edições de brilho e de sucesso

Durante anos, o Feec, principal evento cultural de Três de Maio, movimentou o cenário musical estudantil

Três de Maio. Este município que leva até hoje a marca de ser pioneiro em festivais estudantis no Estado, também conhecido como a cidade canção, traz aberta uma fenda na sua programação: o evento que a cada dois anos reavivava a cidade, hoje enfrenta dificuldades para ser realizado.O Festival Estadual Estudantil da Canção (Feec), que tivera início há 36 anos, fez da cidade um verdadeiro palco de revelação de vários compositores e intérpretes oriundos do movimento estudantil gaúcho.

Como tudo iniciouPode-se afirmar que Hélio Zawatski, na época presidente do Grêmio Estudantil Pio XII, é um dos pais do Feec. Segundo ele, o festival surgiu de uma associação de ideias e observações da época em que era estudante. “Existia naquela época a jovem guarda, movimento musical iniciado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Vanderleia e Vanderlei Cardoso. Em 1971, quando me desloquei para Três de Maio, o Colégio Pio XII, hoje Cardeal Pacelli, contava com 1.500 estudantes, o que formava o ambiente ideal para se desenvolver uma iniciativa e motivar aquela juventude a desenvolver algum evento”, relembra.
Tudo começou com o “Pio XII em Tempo de Primavera”, em 1971. Conforme Zawatski, assim como na primavera os pássaros cantam e surgem as flores, o ambiente era propício para a realização de um festival estudantil criando não só ídolos nacionais, mas também ídolos locais e regionais da música.

Depois do festival interno, 1º FIC reúne estudantes de toda a cidade
Devido ao sucesso que foi este festival embrião, Hélio, diretoria e as lideranças estudantis do colégio Pio XII mobilizaram-se para realizar um festival intercolegial, denominado Festival Intercolegial da Canção (FIC). “Com o apoio dos demais grêmios estudantis da cidade, neste mesmo ano ocorreu no auditório do Colégio Dom Hermeto o 1º FIC. Ninguém imaginava que este festival alcançasse o sucesso e a repercussão que teve na época”. O êxito no evento foi tanto que novamente inovaram e foi lançado no ano seguinte o Festival Regional Estudantil da Canção (Frec).“Foi quando criamos uma equipe de visitação nos colégios da região, para motivar os estudantes a participarem do festival”.

Três edições do Frec anunciam um novo festival
Sob a presidência de Hélio e a coordenação do professor João Seno Bach, o 1º Frec ocorreu no CTG Tropeiros do Buricá e teve a participação de 43 estudantes-cantores, oriundos de 16 municípios da região do Alto Uruguai. “Aproximadamente 3.500 espectadores asseguraram o sucesso da primeira edição, o que fez com que fosse realizada a segunda edição deste festival”, diz Hélio.
Na época sob a presidência de Bach, o 2º Frec aconteceu no galpão da Cotrimaio, tendo como cenário sacas de soja, adubos e venenos. Superlotou. Com duas categorias de classificação, 63 cantores participaram e foram aplaudidos por mais de seis mil pessoas. “Diante de todo esse sucesso, o Círculo de Pais e Mestres se deu as mãos e uniu-se para construir um local para a realização dos festivais. E em tempo recorde para a épocafoi construído o Ginásio de Esportes Pio XII”.
A 3ª edição do Frec foi a que inaugurou o novo espaço e entrou para a história de todos os festivais já realizados na cidade. “Vieram cantores e público de todas as regiões do Estado. Foi extraordinário, já que havia na época apenas outro festival no Estado, a Califórnia da Canção Nativa”, explica Bach.
O grupo de jurados desta edição do Frec foi seleto, e os destaques foram José Fernandes e Gilmara Sanches, do Programa Sílvio Santos. Aplaudiram os cantores nas no
vas dependências do ginásio aproximadamente 12 mil pessoas. E foi nesta edição do Frec que o estudante da época Rui da Silva Leonhardt, hoje conhecido como Rui Biriva (em memória) iniciou sua trajetória de sucesso na música. Conforme os registros, ele conquistou o terceiro lugar na categoria Interpretação.
E a terceira edição do Frec foi também a última. Em 1975 foi lançado o primeiro Festival Estadual Estudantil da Canção (Feec). E ele já iniciava em alta, já que os festivais embriões que o originaram obtiveram total sucesso.
Feec movimenta aspirantes a cantores
de todo o Estado
A proporção que um festival de nível estadual aliado às altas premiações fizeram com que estudantes-cantores de todo o Estado estivessem presentes no 1º Feec, em 1975.
Nas edições seguintes, os jurados também movimentavam os dias em que se realizava o festival e eram responsáveis pela superlotação do Ginásio de Esportes Pio XII.Dentre os famosos da época, estiveram em solo três-maiense Agnaldo Rayol, Elke Maravilha, Vera Fischer, Lucélia Santos e João Carlos Barroso. A atual diretora do Instituto Estadual de Educação Cardeal Pacelli, antigo Pio XII, Terezinha Zawatski, na época namorada de Hélio, acompanhou de perto o sucesso que os festivais vinham fazendo. “A cada ano os festivais iam tomando um nível superior, até chegar a âmbito estadual.A dimensão que tomou na época foi incrível, e ele cresceu
de uma forma extraordinária”.
E foi neste clima que o três-maiense IrenoEichelberger venceu o IV Feec, em 1979. Na categoria Interpretação, Irenoganhou com
o prêmio um Chevette zero quilômetro, invejado para a época. “Lembro-me da música que cantei na data: Café da Manhã, de Roberto Carlos”, destaca.
Assim como Ireno, outros cantores se consagraram por meio do Frec e do Feec. Após ser aplaudido no festival, Rui voltou para ser jurado do evento que o consagrou como cantor, assim como Shirle de Moraes, que seguiu os passos de Rui Biriva e foi jurada recentemente no Feec após também se apresentar no festival.

Crise interrompe festival por alguns anos
Porém, após a 5ª edição do Feec, em 1981, uma pausa de vários anos fez o festival ficar desacreditado na comunidade. Conforme relato da professora aposentada Ivone BadoStreicher, coordenadora de três edições do festival e uma das responsáveis por ressurgi-lo na época, a possível causa da parada do Feec seria por questões políticas e financeiras. “E para ressuscitar o festival, foi realizado em 1986 mais um Frec, para só dois anos depois ocorrer a 6ª edição do Feec”, revela.
Contudo, após ressurgir, as proporções do Feec mudaram um pouco. O momento econômico e cultural, aliado à premiação e jurados podem ser citados como três motivos que fizeram com que o festival não reunisse milhare
s de espectadores durante o evento como no princípio. Mas para Ivone, mesmo estando em momentos diferentes, um quesito, quem sabe um dos mais importantes, permaneceu em todas as edições do Feec: a qualidade dos candidatos. “Na época em que foi fundado o Feec não existia televisão, e hoje, vemos o mundo dentro de casa. São momentos diferentes. O festival começou de baixo, mas com força e em termos de qualidade artístico-musical e poética, ele nunca ficou pra trás dos primeiros”.

Evento se adequa à realidade econômica da época
Após isso, o Feec foi

sendo realizado a cada dois anos, e o panorama era de cantores mais regionais, assim como
o corpo de jurados. A premiação também foi sendo adaptada à realidade econômica. Maria Elena Naressi, que coordenou as duas últimas edições do evento, revela algumas adaptações que tiveram de ser feitas na 16ª e na 17ª edição do Feec. “Criamos novas categorias, a premiação passou a ser em dinheiro, e em função disso conseguimos reavivar o Feec”. Maria Elena conta que quando assumiu o evento,envolvimento dos alunos deixava muito a desejar. “O grande momento em que eles se engajaram foi nos primeiros anos do festival. Mas em 2007 fizemos um trabalho para vender ingressos e convidar a comunidade a prestigiar novamente o evento. Foi assim que conseguimos lotar o ginásio mais uma vez”.

Mais que um evento, uma escola de lideranças
Sem dúvida, o Feec e os festivais que o antecederam foram fundamentais para, além de divertir uma multidão de espectadores, formarinúmeros líderes na comunidade. “Olhando pra trás, eu vejo que o festival foi uma escola de lideranças, pois treinou muitos jovens. Os estudantes que assumiram o festival como líderes depois tornaram-se prefeitos, vereadores, presidentes de entidades, dentre outros. Sem falar que lançou no mercado diversos artistas e cantores”, emociona-se Hélio Zawatski.
João Seno Bach concorda com a afirmação de Hélio. “Hoje, muitos dos que se envolviam nos festivais desempenham hoje importantes funções na sociedade. O estudante precisa ter práticas, e foi o que aconteceu com quem organizava e celebrizara estes eventos estudantis”.
Nas últimas edições do Feec, alguns dos nomes de participantes que conquistaram premiações e que hoje figuram hoje no cenário musical são Felipe Martini, Luana Liz Eichelberger, Aline Regina Eichelberger, Anna Cristina Eichelberger, StefanieLenhardt, Shirle de Moraes, Ruggiero Sacilotto e Cibele Gerlach.
Para Cibele, uma das maiores conquistas da sua vida foi ter vencido por duas vezes o festival. “Em 2005, conquistei o primeiro lugar na Categoria Livre, Modalidade Composição, e em 2007, também nesta categoria, obtive o primeiro lugar na Modalidade Interpretação, e isso é motivo de muito orgulho para mim. Saber que faço parte da história deste festival é muito importante”, conta.
Já Ruggiero, participou apenas no XI Feec, quando se classificou em segundo lugar na Modalidade Interpretação. A partir daí, ele passou de calouro para jurado, e acompanhou os estudantes-cantores nas últimas quatro edições do festival.

O tão aguardado retorno
A 18ª edição do Feec seria realizada em 2009. Porém, um temporal que assolou o município em novembro de 2007 destruiu o ginásio, deixando o festival, literalmente, sem palco.
Após três anos de espera, o local foi reformado, e entregue à comunidade no ano passado. Mas a tão esperada volta do festival para este ano deverá ser aguardada por mais um tempo. Segundo a direção do Cardeal Pacelli, principal promotor dos festivais, a reforma do ginásio não contemplou todas as dependências, mas sim apenas as avarias deixadas pelo temporal.
Os vestiários, salas de autoridades e dos calouros, além do palco, não foram reparados, o que impossibilita a realização do Feec. Mais um outubro está por chegar e o sonho de mais um festival fazer brilhar o Cardeal Pacelli e Três de Maio terá que esperar um pouco mais.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Conhecamelhornossotrabalho.blogspot.com

Quando os alunos da Escola Estadual de Educação Básica Poncho Verde dirigem-se à sala de informática da instituição e, ao começar a navegar na internet, deixam a página inicial do navegador carregar, logo se deparam com o blog da escola panambiense, criado em 2008. E é grande a chance de que eles se vejam no blog ou ali localizem, em uma foto, alguns de seus colegas.

As escolas panambienses têm aproveitado de forma satisfatória os recursos desta ferramenta, o blog, que, como se sabe, pode ser criado gratuitamente e que, para o básico – postagem de texto, fotos e vídeos –, possui opções interessantes. Algumas instituições atualizam seu blog de forma mais constante; outras, nem tanto, mas o site está ali, ativo, como uma maneira ágil e imediata de estabelecer conexão entre a escola e o mundo que a cerca. Pelo menos nove Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) de Panambi têm seu blog.

Uma certa resistência, mas uma aceitação muito maior
“Nosso blog registra as mais diversas atividades desenvolvidas na escola (como a recente festa junina e os jogos internos). Por exemplo, os alunos fazem trabalhos com os professores, como vídeos e apresentações de slides, e depois eu publico”, conta a coordenadora do laboratório de informática da escola Poncho Verde, no turno da noite, Maria Dalva dos Santos Lima – há ainda uma coordenadora do turno da manhã e outra da tarde.

Idealizadora do blog da escola (www.ponchoverde.blogspot.com) e a única responsável pelas atualizações, Maria Dalva revela que, se por um lado muitos professores lhe passam com frequência materiais para serem postados, por outro, alguns ainda não chegaram a pedir a postagem de atividades. “Alguns são resistentes a recursos tecnológicos… Mas ninguém nunca foi contra o blog; quando propus a criação e argumentei, fui contagiando os professores, e eles foram bastante a favor.”

Também há, no blog da escola, um banner para se acessar um outro site da instituição criado por Maria Dalva, no qual os alunos podem resolver exercícios formulados pelos professores. O formato dos exercícios é bastante atrativo, desenvolvido com o software Hot Potatoes, que cria exercícios sob a forma de objetos digitais. E em 2010, durante a Copa do Mundo, a instituição participou de um blog conjunto idealizado pela professora Marise Brandão, do Rio de Janeiro. O blog (www.juntosnacopa.blogspot.com) envolveu oito escolas do Estado do Rio de Janeiro e, além da escola Poncho Verde, também a Escola Estadual de Ensino Médio Ruy Barbosa, de Ijuí. No blog, as escolas postavam as atividades desenvolvidas com alunos alusivas à Copa, e ele se tornou um canal bastante integrativo entre diferentes instituições.

Democratização do espaço escolar
Organizados caprichosamente em cima de uma mesa para serem fotografados, os últimos livros recebidos pela biblioteca da EMEF Bom Pastor formam, no blog da escola, um convite à leitura. “Bom dia! Fim de semana chegando… que tal ler um bom livro?”, diz parte da postagem. Criado em 2009 e com o mesmo objetivo de divulgar as atividades da instituição, o blog da escola Bom Pastor (www.emefbompastor.blogspot.com) também é a página inicial dos computadores da escola – e isto tem trazido bons resultados. “A monitora do laboratório de informática, Silvia Cristina Camargo Hentges, teve a ideia de transformar o blog na página inicial de navegação dos computadores. Por meio desta iniciativa, as visitas ao blog aumentaram bastante”, relata a responsável pelas atualizações, a bibliotecária Cristina Barbas.

Para a diretora da instituição, Ieda Cavalheiro de Oliveira, o blog proporciona a democratização do espaço escolar. “Para o Bom Pastor, ter um blog é facilitar a comunicação e divulgar o trabalho de toda a comunidade escolar usando a tecnologia”, considera. E, para a alegria de todos, o blog passa os limites de Panambi e acaba chegando, por exemplo, a pessoas que a escola faz questão que conheçam as atividades feitas no ambiente escolar: os familiares. “Alguns alunos possuem familiares que moram fora de Panambi e que, assim, acessam o blog para ver os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes”, conclui Cristina.




Longe da terra

Há algum tempo, pesquisadores têm se debruçado em estudos direcionados à juventude no meio rural. Identificada como a continuidade dos projetos sonhados pelos pais, os jovens têm grande importância para a sustentabilidade do campo. Mas o fato é que eles estão deixando o interior e indo para as cidades. E, se eles abandonam a terra, qual é a perspectiva para a agricultura familiar? Os resultados obtidos nos estudos indicam insegurança dos jovens nos quatro fatores indicados como base para que ocorra o desenvolvimento local: lazer, educação, saúde e renda. Mas a questão é: por que os jovens estão saindo do campo?
            Segundo a professora doutora Rosani Marisa Spavenello, do CESNORS (Centro de Educação Norte da Universidade Federal de Santa Maria), existem vários fatores que permitem que o jovem saia do interior. Entre eles, destaca-se a falta de auxílio do governo para o desenvolvimento e para que ele possa se instalar como agricultor.
            “Dentro da própria casa, muitas vezes o jovem encontra obstáculos. Os pais não dão abertura para o filho e começam com aquela questão de que se deu certo até agora, não precisa mudar, que sempre fizeram daquele jeito. Mas isso é uma questão de cultura, pois os pais foram criados assim”, afirma Rosani. Outro costume do interior, e fator desmotivador para a continuidade do campo, é a sucessão tardia. Mesmo o pai tendo idade avançada, ele não abre mão dos negócios. O filho, então, precisa pedir autorização para ele antes de tomar qualquer atitude, tornando-se dependente. O jovem só vai assumir a propriedade quando o pai falecer.
            A falta de sucessão tem um impacto muito grande na vida dos agricultores. O estudo de Rosani mostra que a cada 10 jovens que ficam no campo, oito são homens. Os agricultores têm menos filhos, o que dificulta o casamento também. Com menor número de filhos, as escolas no interior se tornam mais raras. Centros comunitários, postos de saúde, igrejas, vão perdendo sua importância justamente porque o número de pessoas no meio rural diminui.
            No caso dos casamentos, o homem do campo precisa procurar uma esposa em outros lugares. Mas, até quando o amor vai durar? Em raros casos, um dos membros do casal abandona o emprego na cidade para voltar para o interior. Se casarem e optarem por ir e voltar todos os dias do interior, o custo vai ser elevado, principalmente se a propriedade for pequena. Haverá mais despesas do que lucros.
            A tendência, em longo prazo, é que a agricultura familiar deixe de existir ou represente números muito pequenos. Os donos de terra serão poucos e grandes e os pequenos vão ter menos espaço e, consequentemente, menos incentivo.


Gislaine Windmöller

Cavalgada pelo resgate da cultura de um povo

Por Emerson Scheis

A região das Missões, no Rio Grande do Sul, conserva uma das mais ricas culturas do país. Toda a trajetória do povo gaúcho, desde seus primórdios até os dias atuais, já foi contada e revista por historiadores de diversas partes do Brasil, devido ao grande número de elementos e, principalmente, pela conservação de símbolos culturais que mantêm viva a chama de sua essência.


Cavaleiros no Assunção de Ijuí
 Com o objetivo de resgatar a história guaranítica dos Sete Povos das Missões, além de enaltecer os aspectos da cultura gaúcha, três são-luizenses resolveram unir o tradicionalismo, a preservação do meio ambiente e o resgate do passado para organizar um evento de proporções regionais. Para isso, foi utilizado um modelo de confraternização usado desde 2001, na tradicional Trilha dos Santos Mártires (caminhada que reúne fiéis da Igreja Católica para agradecer às graças alcançadas perfazendo o mesmo caminho que os mártires de Caaró teriam percorrido): a Cavalgada na Trilha dos Santos Mártires, que teve sua primeira edição em 2010.
A 2ª Cavalgada na Trilha dos Santos Mártires das Missões reuniu centenas de cavaleiros de municípios da região, que percorreram cerca de 170 km em uma semana. O trajeto iniciou no Passo do Padre, em São Nicolau, seguindo para Pirapó, São Pedro do Butiá, Rolador, Caibaté, até, finalmente, ao Santuário do Caaró.

A Cavalgada em São Pedro do Butiá

Os idealizadores do evento, Nelson Morais (coordenador), Edison Lisboa (secretário executivo e representante da Associação de Proteção Ambiental do Rio Piratini), e Sérgio Venturini (presidente da Associação Amigos da Trilha dos Santos Mártires das Missões), relataram as características e os objetivos da edição deste ano, de 30 de abril a 7 de maio.

Na chegada a Caaró
 Segundo Nelson Morais, a Cavalgada divulga a cultura das Missões, considerando o fato de que aqui nasceu a história do Rio Grande do Sul, após o ingresso dos jesuítas espanhóis, em 1962, os quais fundaram São Nicolau do Piratini, primeiro povoado de população permanente do Estado. A ideia da Cavalgada surgiu a partir da trilha a pé, realizada desde 2001, sempre na segunda semana do mês de novembro, período que lembra o assassinato dos padres jesuítas que fundaram as primeiras reduções nas Missões. A 2ª Cavalgada na Trilha dos Santos Mártires teve três metas definidas: divulgar a cultura indígena da região, o tradicionalismo e a preservação ambiental.

Edison Lisboa ressaltou que, durante a Cavalgada, foram ministradas palestras sobre a preservação ambiental, bem como o recolhimento de lixo encontrado na trilha e também o plantio de mudas nativas. Segundo Edison, na primeira edição, foram plantadas cerca de 420 mudas de Ipê Roxo. No evento deste ano, foram 120 mudas de árvores nativas, provenientes do Horto Florestal, de São Luiz Gonzaga, fornecidas com o apoio da Secretaria da Agricultura do município.



O plantio de mudas realizado pelo caminho
 O historiador Sérgio Venturini destacou que a Associação Amigos da Trilha dos Santos Mártires das Missões é uma entidade sem fins lucrativos, criada em assembleia realizada no Balneário Cachoeirão, junto ao Salto Pirapó (Rio Ijuí), no dia 6 de abril de 2002. Nelson Morais enfatizou que, para integrar o grupo da Cavalgada, cada integrante apenas arcou com as despesas pessoais e do seu animal. Além disso, equipes de apoio e escolta da Brigada Militar garantiram a segurança dos cavaleiros, proporcionando que o evento, grandioso desde sua primeira edição, tornasse um roteiro turístico essencial para cada um que queira aventurar-se pela história das Missões.

Crédito das fotos: Edison Lisboa

MUSICANTO SUL-AMERICANO DE NATIVISMO


Cartaz do 25° Musicanto

“Cantando as Emoções e os Sonhos da América Latina”
De 10 a 14 de novembro de 2011, ocorrerá na cidade de Santa Rosa – RS, a 25° edição do Musicanto Sul-Americano de Nativismo. O Musicanto caracteriza-se por ser um festival de raiz, que abre espaço para divulgação de grandes expressões da música brasileira, promovendo o surgimento de novos talentos da música e da cultura latino-americana.

O Musicanto teve sua primeira edição no ano de 1983, desde então, centenas de artistas participam anualmente, dando um show de talento no que se refere à arte, beleza e poesia. O espetáculo atrai inúmeros espectadores a cada edição, que vem de todas as partes do país a fim de prestigiar um grande evento cultural.
Segundo o presidente da 25° edição, Edemir Leite, qualquer compositor sul-americano pode participar do evento, desde que inscreva suas composições em um dos idiomas em uso nos países sul-americanos. “As composições que poderão participar do festival devem obedecer aos ritmos tradicionais de nosso estado, os folclóricos e regionalistas das mais diversas regiões brasileiras e sul-americanas, entre os quais destaco: chamamé, chacarera, zamba, rasguido doble, gato, vidala, cifra, tonada, carnavalito, candombe, guarânia, polca, cueca, gaulambao, malambo, entre outros aculturados ou em processo de aculturação em nosso estado e país.” Os candidatos poderão se inscrever para participar do festival enviando a música gravada em CD e cópia da letra pelo correio até a sede do evento conforme previsto no regulamento do Musicanto publicado no site do festival www.musicanto.com.br.Depois de encerrado o processo de inscrições, os organizadores do evento convidam uma equipe de profissionais da área da música, capacitados para fazer a análise das composições inscritas, cerca de 700 músicas, que são ouvidas e analisadas para uma posterior seleção que se resumirá em 25 composições, que de fato irão participar do festival. Os principais critérios adotados pelo corpo de jurados para a análise das músicas inscritas é o conteúdo da letra, o ritmo, arranjo, interpretação e o gênero nativista da região de onde elas representam.
A atenção principal está voltada à música, pois se reúnem pessoas das mais variadas origens, classes sociais, credos e cores, dando liberdade para concorrentes de diferentes lugares apresentarem suas criações, a fim de requalificar a cultura de origem desses concorrentes.
Diversos artistas contribuem com o Musicanto, levando consigo o nome de Santa Rosa para todos os recantos de onde vieram. Além disso, a experiência de palco e o contato direto com as várias formas de cultura produzida em nosso estado, país e países sul-americanos, em virtude de que a cultura latina é muito rica. No decorrer de todas as edições do Musicanto, o evento foi ganhando projeção. Um exemplo disso é o reconhecimento da música “Candeeiro Encantado” vencedora da 10ª edição ocorrida no ano de 1992, letra do carioca Paulo Cézar Pinheiro e música do pernambucano Lenine, que está fazendo parte da trilha sonora da novela da Globo “Cordel Encantado”.

As 25 músicas classificadas para o 25° Musicanto, concorrem a dez premiações, entre elas: 1° lugar - R$ 15.000,00 e troféu; 2° lugar - R$ 7.000,00 e troféu; 3° lugar - R$ 3.000,00 e troféu. Há também uma premiação que varia de R$500,00 a R$1.000,00 para as categorias: melhor instrumentista, melhor letra, música mais popular, melhor intérprete e melhor arranjo. Além dessas premiações os compositores recebem da organização do festival pela classificação na triagem do Musicanto uma ajuda de custo no valor de R$ 3.000,00 para a composição em que os autores situem-se numa distância acima de 800 km de Santa Rosa, RS, e o valor R$ 2.500,00 para a composição em que os autores situem-se numa distância de até 800 km de Santa Rosa, RS.
A programação do 25° Musicanto Sul-Americano de Nativismo será no Centro Cívico Cultural de Santa Rosa.


O cantor Lenine, vencedor da 10° edição do Musicanto com a música "Candeeiro Encantado"

Andressa Streicher

DANÇANDO A TRADIÇÃO

O Encontro da Arte e Tradição Gaúcha surgiu na década de 70. Antes de ser oficialmente ENART, o encontro fora chamado de dois nomes: MOBRAL - Festival Estadual de Arte Popular e Folclore, e depois FEGART - Festival Gaúcho de Arte e Tradição. Atualmente o ENART é o maior encontro de tradições da América Latina e do mundo. Tem por finalidade a preservação, valorização e divulgação das artes, da tradição, dos usos e costumes e da cultura popular do Rio Grande do Sul.
A categoria que mais se destaca no ENART é a dança dos grupos dos Centros de Tradições Gaúchas (CTG) e Departamento de Tradições Gaúchas (DTG). Os grupos são divididos em duas categorias: Força A e Força B, os quais, passam por três etapas – Regional, Inter-Regional e Final. A Final do ENART sempre acontece na cidade de Santa Cruz do Sul, onde reúnem-se milhares de dançarinos e espectadores.
O campeão atual na categoria de danças do ENART é o DTG Juventude, da cidade de Alegrete. O dançarino Filipe Bortolas de Souza, 25 anos, dança desde os 11 anos e tem em seu currículo nove finais de ENART – tendo uma vitória no ano de 2010, pelo DTG Juventude. Para ele o ENART, além de ser o mais importante festival que já participou, é um lugar onde pode rever amigos, conversar, trocar experiências, e se divertir através da dança. “O ENART, na minha visão tem o intuito de aproximar os participantes do Movimento Tradicionalista, promovendo assim uma grande integração entre os mesmos. Mas na prática não é o que acontece, anos após anos, vimos o ENART virar um jogo de interesses”, comenta Felipe.


Cínthia Teixeira, 26 anos, dançarina do CTG Farroupilha de Ijuí também pensa da mesma forma que Filipe: “Hoje mais do que nunca o ENART transformou-se muito mais na ‘competição’ entre os grupos, do que propriamente na beleza das coreografias, na elegância das prendas, no sapateado dos peões. A cada ano de festival constata-se, cada vez mais, o esquecimento dos grupos, no sentido de trazerem novidades, pesquisando Rio Grande afora, coreografias retratando as nossas guerras, contando a história dos negros, as sangrentas batalhas, assim como quando se cantam o amor do gaúcho por sua prenda. Enfim, a dança a meu ver perdeu a essência, perdeu o brilho e a grandiosidade, a dança tradicional virou simplesmente ‘seguir um livro’, caso você faça diferente você está fora”.
Já para o dançarino Felipe Benites Moreira, 24 anos, do CTG Aldeia dos Anjos - Grupo que tem o maior número de vitórias do ENART, sendo dez vezes campeões, o encontro procura divulgar, através de várias modalidades como: danças, declamações, chula, entre outros, o tradicionalismo gaúcho. “Na minha concepção o ENART é um festival com uma representatividade muito grande no meio tradicionalista, mas pouco explorado pela mídia e o estado como um todo”, ressalta o dançarino.
Os grupos de danças estão focados agora no encontro que será no terceiro final de semana do mês de novembro. Somente dançarão aqueles que passarem para a final, concorrendo, antes, nas etapas regionais e inter-regionais. “A pressão pelo bi-campeonato está sendo cobrada, e vamos atrás desse título. Faltando cinco meses para o festival, estamos ensaiando, e nos preparando. Se Deus quiser, vamos trazer novamente o Troféu Rotativo para o DTG Juventude”, declara Filipe, emocionado.


Daniele Santos

MODERNIZAÇÃO E TRADICONALISMO

Modernização e tradição conseguem andar lado a lado? Pelo menos na música parece que não, atritos de gêneros modernos com gêneros antigos mancham a tradição.







A modernização chegou em todos os âmbitos, na música gauchesca essa mudança também chegou. A Tchê music é o fruto desta modernização, uma variação da música gaúcha tradicional, que adquire elementos da musica baiana, pagode, samba entre outros ritmos, junto com os ritmos mais comuns no Rio Grande do Sul, como o chamamé, vaneira e xote. Ainda na tchê music foram incorporados outros equipamentos de som, como percussão, bateria, guitarra elétrica e DJs.
A música gaúcha tem origem na escola literária do parnasianismo, e traz em suas letras ambientes como a terra, o chão, os costumes e o cavalo, possuindo em suas letras grande admiração por suas origens e relatando as suas paixões.
O estilo musical gauchesco mostra também origens fortes na música espanhola e na música portuguesa. Com uma formação complexa, a música gauchesca torna-se difícil de ser interpretada, em alguns casos, por outros grupos ou músicos que não possuem ligação direta com a cultura gaúcha.


Nativismo e tradicionalismoApesar das músicas dos dois tratarem do mesmo tema, tradicionalistas e nativistas discordam entre alguns pontos. O passado do Rio Grande do Sul e a influência espanhola dos paises vizinhos na música.
Os tradicionalistas têm certo desprezo por considerar que os espanhóis muitas vezes no passado foram inimigos nas guerras em que o estado se envolveu. Já os nativistas, não se envergonham de admitir que muitas caracteristicas culturais são originarias dos paises vizinhos, muitos chegam a gravar músicas em espanhol. Outro ponto de divergência entre tradicionalistas e nativistas é a religião. Tradicionalistas na maioria das vezes são católicos, enquanto alguns nativistas poucas vezes falam em Deus.


Nativismo/Tradicionalismo X Tchê MusicEm meados de 2006, iniciou um atrito entre nativistas/tradicionalistas e músicos da tchê music,por conta dos integrantes do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que proibiram os músicos de Tchê Music de se apresentarem em CTG's, pelofato de os músicos terem tirado a pilcha (bota, bombacha, guaiaca) e por não considerar o tchê music como legítima música gaúcha. O CTG que não obedecer pode ser notificado e até mesmo desfiliado. Consideram também que os grupos de Tchê Music estão alterando o ritmo da música gaúcha. Nas suas apresentações é comum notar a mescla de ritmos de axé até mesmo o rock. Para o MTG, a principal preocupação é a desvalorização da tradição. Os tradicionalistas criticam também as letras do Tchê Music e sua dança. “É para barrar a distorção da música gaúcha. Tínhamos de estabelecer essas medidas para não termos nossa cultura distorcida”, disse Manoelito Savaris, ex-presidente do MTG do Rio Grande do Sul.
Com essa briga e a proibição, os componentes do Tchê Music acabaram se unindo e formando o Movimento Tchê Brasil (MTB), como uma forma de defesa do Tchê Music, e criando lugares específicos para esse estilo, assim como os CTGs estão para a música gaúcha campeira.
Esta decisão tomada não é benefica para ninguém, diminuindo as rendas de CTGs e grupos musicais. Em entrevista para o Jornal Minuano de Bagé, o diretor de marketing dos grupos Tchê Barbaridade e Balanço do Tchê, Paulo Bombassaro comenta esta decisão: “É ruim para os dois lados. O público vai acabar saindo dos CTGs para ver nossos shows”.
Muitos dos grupos batizados como Tchê music estão migrando para música gaúcha tradicional, pois os bailes diminuíram e a única opção foi voltar ao estado tradicional. Segundo o tecladista Dioni Marlon da Silva, com mais de 15 anos de profissão e tocando em grupos no Rio Grande do Sul, a situação é muito complicada: “Não podemos tocar em bailes só com violão, pandeiro e gaita. Temos de inovar, acredito que é mais uma forma de desespero destes grupos que estão migrando, estão voltando apenas para o ganha-pão e não pela filosofia tradicionalista.”
O ex-presidente Manoelito Savaris, deixa a porta para aqueles que quiserem voltar, mas faz ressalvas em relação à tradição: “Se voltarem a fazer música gaúcha tradicional, tendo a postura adequada, serão contratados. Mas poderão ter dificuldade, pois haverá desconfiança.”.
Mas se os grupos e CTGs terão ônus com esta decisão, o público também irá sofrer com a escassez de shows. O dançarino Luis Rafael Guterres é contra a decisão tomada: “Achei sem muito fundamento esta decisão, pois a Tchê music traz muito dinheiro para dentro dos CTGs, além do que, eles estão levando o nome do Rio Grande do Sul para todo o Brasil”.













Fio de cabelo x Meteoro da PaixãoSe a Tche Music e a música gauchesca estão em atritos, a música sertaneja também está em conflito. Com a ascendência do sertanejo universtário a música sertaneja e caipira acabou caindo no esquecimento da maioria do público.
O sertanejo universitário mudou o jeito dos músicos fazerem suas músicas, incrementando alguns instrumentos como a sanfona, e tornando um ritmo mais acelarado em relação ao ritmo convencional. O estilo que tem como tema festas, mulheres e bebedeiras, caiu no gosto dos universitários, por isso o nome.
O sertanejo universitário não é um gênero diferente do que o gênero sertanejo é apenas uma variação do sertanejo clássico. Sertanejos tradicionais não gostam da idéia desse outro gênero levar o mesmo nome e ser conhecido como uma “variação” do sertanejo tradicional. O musico Luciano da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano demonstra sua preocupação com este novo gênero: “Minha preocupação sempre foi a de que, quando a imprensa intitula ‘sertanejo universitário’, pode virar algo passageiro. Também temia que aqueles artistas se sentissem na obrigação de só fazer regravações de nossas canções, apenas com uma levada diferente da nossa, e não compor músicas inéditas“, respondeu Luciano, ao ser entrevistado pelo site UOL e questionado sobre por que critica o movimento sertanejo.
Com todos estes “problemas” musicais quem sofre é o publico, que vê sua preferencia musical dividida. A modernidade faz parte do mundo e a cultura não vai ser afetada por esta razão.

Guilherme Sebastiany

O VERSO E O REVERSO DE ERICO VERÍSSIMO


Erico Veríssimo, um dos mais importantes literatos brasileiros do século XX. O seu legado é composto por três contos, treze romances, uma novela, doze literaturas infanto-juvenis, quatro narrativas de viagens, três autobiografias, três ensaios e três compilações. As suas produções literárias já foram traduzidas em dezesseis idiomas. Foi responsável também pela tradução de treze romances e três contos. Cinco dos seus livros tiveram adaptações para o cinema e seis obras para a televisão. Ele é enredo de diversas matérias e documentários de jornal, rádio, TV e internet. Ganhou diversos prêmios de literatura tais como Jabuti, Troféu Juca Pato, prêmio Machado de Assis. Viveu setenta anos e é pai de Clarissa e Luiz Fernando.
Érico nasceu em Cruz Alta em 17 de dezembro de 1905. Filho de Sebastião Veríssimo e Abegahy Lopes Veríssimo. As raízes de Érico Veríssimo são oriundas de duas famílias.
Manuel Esteves Veríssimo da Fonseca nasceu em Portugal em 1792. Veio pra Minas Gerais onde casou. Era tropeiro e veio a cavalo com a família para a cidade de Caçapava do Sul-RS, onde foi presidente da câmara de vereadores. A cidade foi cercada pelos farroupilhas comandados pelo General Neto em 1837. Manuel fazia oposição ao movimento e estava em perigo. Foi resgatado do cerco por Vidal José Pillar e levado para a cidade de Cruz Alta. Manuel gerou Domingos Veríssimo da Fonseca, que gerou Franklin Veríssimo da Fonseca, que casou com Adriana Firmina e gerou o pai de Érico.
“Apesar de não carregar o sobrenome Veríssimo julgo que o principal antepassado de Érico é Vidal José Pilar” afirma o historiador Rossano Cavalari que é responsável pelos museus de Cruz Alta e está escrevendo o Dicionário Histórico da cidade.
Vidal era militar e político curitibano, que resgatou Manuel Esteves Veríssimo da Fonseca do cerco farrapo em Caçapava. Foi tataravô materno e trisavô paterno do escritor. Teve duas filhas, Laurentina e Maria Lúcia. Os descendentes de Laurentina geraram Abegahy Lopes da Silva mãe de Érico. A filha de Maria Lúcia, Adriana Firmina, casou-se com Franklin Veríssimo da Fonseca e geraram o pai do Escritor.
Ainda pequeno enfrentou problemas de saúde que quase ceifaram a sua vida. Já na sua adolescência lia autores nacionais renomados. “Ele não completou o ginásio e isso não foi empecilho para ser conferencista no exterior e dar aulas para doutores em universidades americanas”, afirma o pesquisador Cavalari. Érico lecionou Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia. Como muitos outros escritores também foi jornalista.
A sua trajetória ficcionista é marcada por temas que abordam a vida urbana, a história e a política. Cavalari conta que “Érico era um humanista e não compactuava com nenhum tipo de autoritarismo. Por vezes utilizava da literatura para expressar este pensamento. No livro Incidente em Antares ele utiliza a figura dos mortos para criticar a sociedade”. Suas ideias em alguns momentos atiçaram a curiosidade dos agentes de repressão de Vargas e do regime militar.
O autor buscou retratar-se em algumas obras. “No seu primeiro romance, Clarissa, vários críticos literários julgam que a menina é o alter ego (do latim alter = outro egus = eu) do autor” Comenta Cavalari. Segundo Larry Antonio Wizniewsky, professor de literatura da Unijuí, “ao longo de sua obra Erico exalta a figura da mulher, os homens são os mais frágeis e/ou morrem primeiro. Isto seria um reflexo de sua vida, pois o pai se foi e a sua mãe se tornou a figura mais importante do lar”.

A relação com Cruz Alta

Em suas obras Erico evidencia, mesmo que com outros nomes, a sua cidade natal. Em Solo de Clarineta, misturam-se em um único registro a épica Santa Fé de O Tempo e o Vento e a melancólica e pastoral Jacarecanga da saga de Clarissa Albuquerque. Em uma entrevista declarou “O computador do meu inconsciente foi programado em Cruz Alta”. Segundo Larry Antonio Wizniewsky, “Cruz Alta é, talvez, o espaço urbano mais revisitado e reconstituído por um único autor na literatura brasileira. Andar pelas ruas de Cruz Alta é deixar-se surpreender pelo que ainda resta das praças, ruas, sobrados e farmácias da infância de Erico. Trata-se de um mergulho na matéria ainda vertente da literatura que sobreviveu, a seu modo, naquilo que foi expresso na parte mais relevante da obra de Erico.” “Consigo identificar vários personagens cruzaltenses na cidade fictícia de Jacareacanga do livro Musica ao Longe” afirma Cavalari.

O Museu

A “Terra de Érico Veríssimo” abriga um museu homônimo. Localizado exatamente na casa onde viveu por dezoito anos e possui um acervo de toda a sua obra. Os livros que traduziu e os seus que foram traduzidos em outras línguas. Destacam-se dois de seus livros em japonês onde a capa é ao contrário. Seus cadernos do tempo de escola cheios de desenho. Sua primeira maquina de escrever. Seus óculos, suas fotos em diversos momentos de sua vida e outras curiosidades. O responsável pelo museu Cavalari resume: “aqui a historia de Erico é revivida a cada visita”.

A cultura circense não perde o encanto

O circo é um dos mais importantes veículos da produção cultural no Brasil. Até a década de 50 e 60, somente o circo conseguia chegar a todos os municípios do país. Os espetáculos tinham música, dança, teatro, acrobacias, mágicas, animais, era uma festa de cultura e diversão. Historiadores afirmam que não se pode contar a história do teatro, da música, dos discos e do cinema sem falar no circo. Segundo o Ministério da Cultura (www., o circo constitui uma forma de expressão fundamental na formação cultural brasileira, por conta de sua itinerância e sua capacidade de influência em todo o território. A linguagem circense é das mais importantes manifestações das artes cênicas. Depois de atingir seu apogeu na primeira metade do século XX, o circo sofreu as conseqüências da remodelação das formas tradicionais e perdeu público devido à popularização das linguagens do cinema e da televisão. Nos anos 80, surgiram iniciativas de rearticulação do circo e de revitalização de sua riqueza, obtida graças à apropriação de elementos de diferentes culturas, linguagens artísticas e manifestações regionais. A diversidade de práticas circenses coloca desafios específicos para a elaboração de uma política para o setor.
FUNARTE Cabe ao poder público e em especial à Funarte criar condições para que o circo brasileiro possa ver suas demandas e precariedades resolvidas com apoio, capacitação e acesso a espaços dotados de condições satisfatórias de infra-estrutura e localização para suas apresentações. O Estado deve, ainda, promover a pesquisa e a preservação da memória das atividades circenses, visando o reconhecimento dessa tradição e a criação de programas de circulação de espetáculos, principalmente em regiões de maior isolamento geográfico.

O espetáculo do Koslov

Não somos os melhores, mas fazemos da nossa arte, o melhor da nossa vida. (Palhaço Dica)




Desde criança, não ia mais ao circo. Em junho deste ano chamou-me a atenção a fila para ver o espetáculo do circo que chegara à cidade. Um impulso fez-me comprar ingresso por dois dias consecutivos. Redescobri o encanto da arte circense, acompanhando o trabalho dos artistas do Koslov. O circo Koslov é um circo com 24 anos de estrada. Ele vem mostrando que a arte circense ainda não morreu. Sem animais, o foco é mostrar a arte circense como ela é. Para o Palhaço Dica, a arte circense é a criança fazendo acrobacia, é o palhaço e suas esquetes cômicas, um mundo de encantamento. Preparação dos espetáculos A organização do programa é feita normalmente no começo da semana, variando o espetáculo quanto ao tempo de duração do espetáculo, no circo tudo é ao vivo.



A crise do circo

Segundo Dica,o circo passa hoje por um momento difícil gerado pelo avanço tecnológico. “A internet é uma concorrente do circo, que é algo ao vivo. Antigamente, o circo sofreu com o auge do cinema, públicos lotavam cinemas, e o circo ficava sem espectadores. Acho que os meios tecnológicos afastaram as pessoas do circo e principalmente os jovens. eles formam seus próprios mundos, a internet forma suas redes sociais. Mas na busca por atrair os jovens, continuamos oferecendo, o que temos de melhor, a arte circense e seu encantamento”, destaca o palhaço Dica. Evelyn Signorelli – a acrobata Ela praticamente nasceu no circo. Aprendeu aos seis anos as acrobacias, assistindo vídeos do Circo de Soleil, e vendo outros artistas, ela afirma não ter ensaios regulares. Filha de pais separados, ela decidiu conhecer o mundo com o pai no circo. Sempre conhecendo lugares novos, sotaques novos. Evelyn hoje aos dez anos faz planos para seu futuro, quer ser acrobata do Circo de Soleil ou senão pediatra. Mas é possível afirmar que ela já é uma grande artista de circo.

A cultura que vai além das frequências

Em uma cidade com pouco mais de seis mil habitantes, não é uma tarefa tão simples manter e cultivar tradições, que preservem a cultura do município, seja através de música, dança, gastronomia, ou qualquer outro tipo de programação que envolva as pessoas, de forma a prender a atenção do público das mais variadas faixas etárias. Mas quando algo  é feito com amor e dedicação acima de qualquer outro objetivo, os resultados são os melhores e tornam-se surpreendentes.

Em Ajuricaba, uma pequena cidade situada a cerca de 30 Km de Ijui, o gosto pela etnia italiana vem crescendo consideravelmente há 10 anos. Crianças, jovens, adultos e principalmente idosos não deixam de demonstrar seu carinho e apreço pela cultura.
No ano de 2000 um grupo de pessoas iniciou suas atividades com a intenção de criar no município uma Rádio Comunitária, buscando levar aos moradores que antes não possuíam rádio no município, uma programação variada que veiculasse informação, música e valorização da cultura local. Em setembro de 2001, o sonho tornou-se realidade, com a Cultura FM 104.9.
A repercussão foi muito positiva entre os moradores, que desde o inicio demonstraram carinho pela programação, através de pedidos musicais por ligações, visitas à rádio, e até mesmo cartinhas. Mas o apreço dos ouvintes passou a ser mais notado quando integrantes da diretoria resolveram criar o “Programa dos Italianos”. Aos sábados, das 8h30min às 9h30min, os apresentadores Deoclenio Luiz Bertollo e Olímpio Bandeira despertaram no público a paixão pela etnia, por meio de uma linguagem simples, locução em italiano e músicas em italiano. O sucesso foi tanto que seis meses depois o programa passou a ser apresentado aos domingos, das 20 ás 22, e continua ate os dias atuais.
Um dos apresentadores do programa, Deoclenio Bertollo salienta: “a programação é feita com muito amor, procuramos levar a todos os públicos um pouco de conhecimento sobre a língua italiana, e para as pessoas mais idosas que cresceram ouvindo seus pais e avós falando em italiano não existe nada melhor”. Ele explicou que a idéia do programa surgiu porque há uma significativa quantidade de pessoas de origem italiana no município. Então, procuraram pensar em algo que cativasse esse público. E Hoje, o programa conta com cerca de sete personagens interpretados por apenas duas pessoas, são eles: o Nono, a Nona, o Ferro Velho e o Alemão interpretados por Volmar Bertollo,e o Caminhoneiro, e o Jangolino e Frigolino interpretados por Celço João Bertollo. Para os personagens, o programa contribui para a comunidade principalmente por cultivar a etnia e por ser de cunho humorístico. Deoclenio ressalta a paixão pela profissão: “Para mim é a mais gratificante do mundo e acho que qualquer dinheiro não cobre a alegria de encontrar as pessoas na rua e elas te chamarem pra pedir uma música no próximo programa, ou de receber um cartão de Feliz Natal dos ouvintes, por exemplo. É muito gostoso perceber que pessoas de outras etnias também ouvem a programação e procuram entender a língua, havendo uma troca de cultura muito grande durante a programação, e isso também tem muita importância.
Bertollo  conta que todo o ano acontece um Encontro dos Programadores de Rádio do Talian do Brasil e Encontro dos Meios de Comunicação Italianos no Brasil., promovido pela Federação das Associações Ítalo-Brasileiras (FIBRA), a Associação dos Difusores do Talian (ASSODITA), com apoio da Federação dos Vênetos no Rio Grande do Sul, presidida por Paulo Massolini. Desse encontro participam muitos descendentes, simpatizantes e locutores de outras rádios de todo o Estado que também possuem uma programação voltada a essa etnia, onde acontecem cantorias italianas, teatros, feira do livro, exposições, festa ítalo-gaúcha, shows de integração, trabalhos de cultura, entretenimento, integração entre os participantes, entre outras programações. “Nos últimos dois anos o Encontro ocorreu na cidade de Serafina Corrêa, e Ajuricaba lotou ônibus para participar, levamos uma pessoa para filmar o encontro, e além de todas as atrações ainda houve uma emocionante missa italiana rezada por um padre que nasceu na Italia, também tivemos palestras com uma pessoa que veio diretamente da Italia para palestrar, ele nos mostrou vídeos de como é os ensinamentos na Italia para as crianças, depois podemos acompanhar um Baile Italiano”, frisa o apresentador.
Enfim, não é difícil entender o quanto a programação transformou-se em algo positivo e de sucesso. Para o Diretor da Rádio, Élio José Toso, 49 anos, ocupante deste cargo desde 2009, este trabalho tem muita importância: “Além de ser uma programação bacana, resgata a cultura e a língua Italiana acima de tudo, trazendo um pouco daquilo que nossos antepassados trouxeram da Itália e disseminaram em nossa região, e hoje, através do programa dos italianos podemos vivenciar não só os costumes, mas um pouco daquilo que os primeiros imigrantes nos mostram” salienta o diretor, que acredita que o fato de o programa trazer contos italianos, brincadeiras e uma parte humorística é um dos grandes responsáveis pela audiência.
A programação é ouvida em sua maioria por pessoas de mais idade, mas nem por isso os jovens deixam de ouvir. Rosandro Andre Brigo, 29 anos, é um exemplo disso: “Todos os programas que trazem algo cultural contribuem para as pessoas. No caso do programa italiano, há um resgate de muitas das expressões que nossos avôs falavam. Traz a lembrança e a continuidade de uma integração familiar. Traz o ensinamento de uma língua, que não pode se perder no tempo. Novas gerações conseguem dar prosseguimento ao estilo trazido da Itália, pelos imigrantes, há mais de um século, e as imitações de antepassados e personagens fictícios trazem alegria nos domingos de noite. As músicas tocadas, as histórias contadas e a língua falada no programa são fundamentais para a continuidade do gosto pela nossa descendência”, comenta. Ele vê como um dos diferenciais do programa a forma alegre e descontraída com que é apresentado: “Sempre motivando risos dos ouvintes. A noite fica bem mais animada como rádio ligado no programa. A criatividade utilizada pelos apresentadores sem dúvida é uma motivação para continuar sintonizado”. Rosandro diz que a programação provoca lembranças dos antepassados. “A forma como eles agiam e se comunicavam, permanecem vivas dentro de cada ouvinte, que além de ter no sangue a descendência de imigrantes, pode ter também em seu dia-a-dia a cultura trazida de forma verdadeira através deste tipo de programa”.
E para as pessoas de mais idade, o programa contribui ainda mais: “Quando chega o domingo eu faço cedo o serviço no interior, pras oito horas estar pronto e com o radinho ligado. Como eu moro no interior, não é em todos os lugares que o rádio sintoniza, então a gente vai à parte mais alta da casa, arrumamos um chimarrão e ficamos lá ouvindo, eu, minha esposa e meus netos. Quando ligamos pra pedir música e participar da programação, caminho cerca de 1 Km até encontrar um lugar que funcione o celular, e isso não é nenhum esforço pra mim. A gente sente como se fizéssemos parte dessa programação. As vezes os locutores soltam trechos de áudio que foram gravados há muito tempo atrás, tem uma gravação em que eu posso ouvir meu pai jogando ‘mora’, um jogo da etnia Italiana, e sempre que eles colocam esse trecho eu me emociono muito, e imagino a cena” conta Daisi Bandeira, 69 anos, residente na Linha 22, interior do município. “Enquanto eu tiver forças eu vou continuar todo domingo mantendo o costume de ouvir o programa, e eu nem preciso insistir para o meu neto Daniel de apenas três anos e minha neta Milena de 12 anos virem aqui pra ouvir comigo, pois para eles isso também é prazeroso. Os locutores fazem o programa ser tão diferente dos normais, parece que eles estão conversando conosco”, conclui  Daisi.
Já para o presidente da Rádio, Marcos Carvalho, algo que lhe chama muita atenção é que está se expandindo o número de ouvintes pela internet: “criamos um blog e um site no ano passado, possibilitando às pessoas  ouvirem a rádio via internet e mais uma vez surpreendemo-nos com o resultado positivo, pois em todas as programações as pessoas se manifestam, dizem que estão ouvindo dos mais diversos lugares do Brasil”, comenta ele, que diz ainda: “Hoje temos ouvintes assíduos no Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, sendo na maioria pessoas que já moravam em Ajuricaba e foram embora, ou pessoas que têm parentes aqui, e através das programações procuram manter-se ligados às pessoas, às raízes daqui. Incrivelmente, o programa dos italianos, é um dos que mais há manifestos das pessoas que ouvem a rádio online e moram fora, elas aproveitam esse momento para mandar abraço aos irmãos que vivem em Ajuricaba, parentes, pais e amigos. Às vezes, quando alguém liga de longe colocamos a pessoa ao vivo para falar, e isso também é muito legal” comenta Marcos.
A fidelidade dos ouvintes na programação também é muito perceptiva, na medida em que há pessoas que ligam todo  dia apenas para lembrar que estão ouvindo.
Enfim, não há duvidas de que a iniciativa deu certo e superou as expectativas não somente dos ouvintes, que ganham de presente uma programação variada e repleta de alegria, mas também traz felicidade aos dirigentes da radio, que vêem seu trabalho indo além do município, da região, do estado, e chegando até as famílias, cativando de crianças a adultos, na cidade e no interior.

Raízes da Itália


"Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro?
É a massa dos infelizes?
Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco.
Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.
Criamos animais, mas não comemos a carne.
Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa pátria?
Mas é uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?"
(resposta de um italiano a um Ministro de Estado de seu país, a propósito das razões que estavam ditando a emigração em massa)


Primeiros imigrantes italianos que chegaram ao Brasil
Personagens de novelas, macarronada aos domingos e até nome de time de futebol. A influência dos italianos marcou de forma definitiva o Brasil desde que esses imigrantes começaram a vir para cá no século XIX. Até mesmo personagens revolucionários, como Giuseppe Garibaldi, vieram para o nosso país e ajudaram a construir a história brasileira. Toda essa história teve início no século XIX, quando ocorreram grandes modificações políticas e econômicas na Europa. Terminadas as guerras napoleônicas, o Congresso de Viena estabeleceu arbitrariamente novos estados, formas de governo e alianças, sem levar em conta a opinião dos povos a eles submetidos. Terminada a luta, o sonho de paz e prosperidade foi substituído por uma dura realidade: batalhões de desempregados e de camponeses sem terras, que não tinham como sustentar sua família. Diante desse quadro, a solução encontrada por esses trabalhadores foi sair de seu país em busca de novas terras. “Basicamente, todos os povos que imigraram do final do século XIX até metade do século XX fizeram isso porque as condições socioeconômicas em seu país de origem eram precárias”, conta Ivo Piovesan, professor da língua italiana.


Vindo para o Brasil em busca do sonho de uma vida melhor e de paz, os italianos construíram aqui grandes colônias, que os transformaram em um dos povos mais queridos e influentes da cultura brasileira.

Inserido numa das regiões mais férteis do Rio Grande do Sul, o município de Ijuí foi o primeiro projeto de colonização da República. Em 1890 era habitado principalmente por três diferentes grupos de imigrantes: poloneses, alemães e italianos. As peculiaridades do município atraíram novas correntes migratórias, entre elas os letos, portugueses, austríacos, afro-brasileiros, suecos, espanhóis, árabes e holandeses. A diversidade étnica e cultural passou a ser reconhecida e valorizada somente no final da década de 80. Ijuienses de todas as raças passaram a se reunir em centros culturais para manter suas tradições e costumes. Unidos, descobriram que poderiam fazer de suas diferenças uma interessante atração turística. Então se criou, dentro do Parque de Exposições do Município, um movimento que envolveu toda a comunidade para a construção das casas típicas, com as marcas arquitetônicas mais significativas de cada um dos países representados, onde são realizadas reuniões e encontros, na intenção de resgatar os costumes, a música, a dança, a gastronomia e a cultura de seus países de origem. Anualmente é realizado em outubro no Parque de Exposições a Festa Nacional das Culturas Diversificadas (Fenadi).
A primeira reunião da etnia italiana ocorreu em 14 de maio de 1987 no Salão Nobre da Prefeitura com 19 descendentes de Italianos com o objetivo de resgatar o folclore e a manifestação cultural em suas variadas formas, as raízes e os valores de vida de seus antepassados. Como primeiro resultado da reunião o grupo promove jantares no interior do município e nascem os grupos de canto Cantare e Bonna Gente..
A primeira meta é a construção da Casa Típica Italiana no Parque de Exposições Wanderlei Burmann. A partir daí forma-se o primeiro grupo de danças folclóricas italianas, Santa Luccia e depois o grupo juvenil denominado Rondinella, infantil Pimpinelli e mirim Primi Passi. Em 13 de outubro de 1989 inaugura-se  o El Nostro Canton com missa italiana rezada pelos padres Belino e Vergílio Costa Beber. Os grupos artísticos Del Egati e Santa Gorizia, vindos da Itália, animaram e impulsionaram as promoções do Centro Cultural Italiano de Ijuí para a conclusão deste pavilhão. A Semana Italiana é festejada no Rio Grande do Sul, de 13 a 20 de maio, sendo 20 de maio o dia da etnia italiana.
Hoje, o Centro Cultural Regional Italiano de Ijuí possui um programa radiofônico denominado “Italianos Trazem sua Mensagem” e é transmitido todos os sábados das 8 às 9 horas pela Rádio Progresso de Ijuí. “O centro cultural tem por finalidade manter viva a tradição dos imigrantes italianos quando aqui chegaram, difundir o idioma italiano, manter relações de amizade e o intercâmbio cultural entre a Itália e o Brasil”, explica o atual presidente da etnia italiana, Nelson Casarin.
O Centro Cultural, em conjunto com Associação Cultural Italiana do Rio Grande do Sul, desenvolve o curso de língua e cultura italiana para crianças, adolescentes e adultos envolvendo fonética, gramática, leitura e interpretação de textos e conversação. O curso completo vai do nível um ao seis, sendo que cada nível tem 64 horas/aula. A professora responsável é Rosangela Tissot, “Aprender a falar italiano possibilita que os cidadãos de nossa cidade tenham mais uma opção de comunicação, além do mais há um grande número de descendentes italianos aqui em nossa cidade e isso ganha uma importância maior ainda, é muito gratificante esse trabalho”, salienta a professora.

Os imigrantes italianos são conhecidos pela sua espontaneidade e alegria. Dentre suas danças destaca-se a Tarantella que é uma dança conhecida desde o século XVI.

Grupo de dança Volare

Suas músicas mais tradicionais são: Mérica, Mérica, Santa Lucia, La Verginela e La Bella Polenta. A casa oferece uma culinária variada, tendo como prato principal a massa: espaguete, macarrão, ravióli, lasanha, capeletti, agnoline e pizza. Há outros pratos típicos como os salames, os queijos, o radice, as bolachas e a polenta. A bebida preferida é o vinho. Nelson Casarin destaca: “A alegria do italiano se deve pela convivência em grupo, e principalmente pelo bom vinho e sua gastronomia, isso o embala para a cantoria e o espírito expansivo”.