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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Longe da terra

Há algum tempo, pesquisadores têm se debruçado em estudos direcionados à juventude no meio rural. Identificada como a continuidade dos projetos sonhados pelos pais, os jovens têm grande importância para a sustentabilidade do campo. Mas o fato é que eles estão deixando o interior e indo para as cidades. E, se eles abandonam a terra, qual é a perspectiva para a agricultura familiar? Os resultados obtidos nos estudos indicam insegurança dos jovens nos quatro fatores indicados como base para que ocorra o desenvolvimento local: lazer, educação, saúde e renda. Mas a questão é: por que os jovens estão saindo do campo?
            Segundo a professora doutora Rosani Marisa Spavenello, do CESNORS (Centro de Educação Norte da Universidade Federal de Santa Maria), existem vários fatores que permitem que o jovem saia do interior. Entre eles, destaca-se a falta de auxílio do governo para o desenvolvimento e para que ele possa se instalar como agricultor.
            “Dentro da própria casa, muitas vezes o jovem encontra obstáculos. Os pais não dão abertura para o filho e começam com aquela questão de que se deu certo até agora, não precisa mudar, que sempre fizeram daquele jeito. Mas isso é uma questão de cultura, pois os pais foram criados assim”, afirma Rosani. Outro costume do interior, e fator desmotivador para a continuidade do campo, é a sucessão tardia. Mesmo o pai tendo idade avançada, ele não abre mão dos negócios. O filho, então, precisa pedir autorização para ele antes de tomar qualquer atitude, tornando-se dependente. O jovem só vai assumir a propriedade quando o pai falecer.
            A falta de sucessão tem um impacto muito grande na vida dos agricultores. O estudo de Rosani mostra que a cada 10 jovens que ficam no campo, oito são homens. Os agricultores têm menos filhos, o que dificulta o casamento também. Com menor número de filhos, as escolas no interior se tornam mais raras. Centros comunitários, postos de saúde, igrejas, vão perdendo sua importância justamente porque o número de pessoas no meio rural diminui.
            No caso dos casamentos, o homem do campo precisa procurar uma esposa em outros lugares. Mas, até quando o amor vai durar? Em raros casos, um dos membros do casal abandona o emprego na cidade para voltar para o interior. Se casarem e optarem por ir e voltar todos os dias do interior, o custo vai ser elevado, principalmente se a propriedade for pequena. Haverá mais despesas do que lucros.
            A tendência, em longo prazo, é que a agricultura familiar deixe de existir ou represente números muito pequenos. Os donos de terra serão poucos e grandes e os pequenos vão ter menos espaço e, consequentemente, menos incentivo.


Gislaine Windmöller

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